Numa entrevista publicada no Diário Catarinense e reproduzida no site escritório do livro, Boris Schnaiderman fala sobre sua vontade de traduzir Daniel Kharms. Sorte a nossa se pudermos contar com o admirável tradutor.
Há algum autor que o senhor não traduziu ainda, mas gostaria?
Sim, vários. Eu citaria Daniel Kharms, que produziu uma obra de literatura do absurdo. Inclusive ele tem uma peça de teatro do absurdo. Ele começou a aparecer na segunda metade da década de 20. Era conhecido como autor de livros para crianças, de histórias estapafúrdias que as crianças gostam e que eram o seu ganha-pão. Depois, em seu diário, ele confessou que detestava crianças. Foi um precursor de Samuel Beckett e de Ionesco. Na segunda metade da década de 20, havia um grupo de Leningrado que fazia esse tipo de literatura. Era o grupo Oberiúti. E Kharms era, para mim, o mais importante destes autores que narravam o absurdo que surgia naturalmente da vida russa.
Do www.aspargosmultiplos.com
"Velhinhas cadentes.
Uma velhinha, de curiosidade ilimitada, foi se apoiar na janela, caiu e se estatelou. Da janela pululou outra velhinha, começou a espiar a que havia caído, e - de curiosidade ilimitada - também foi se apoiar na janela, caiu e se estatelou. Daí pulularam da janela a terceira velhinha, depois a quarta e a quinta. Quando caiu a sexta velha me deu no saco ficar assistindo e fui para a feira, onde estavam dizendo que presentearam um cego com um xale de lã."
Daniel Kharms
E do www.rizoma.net
"É assim que a fome começa:
Você acorda de manhã, se sentindo bem,
E aí vem a fraqueza,
E começa a chateação;
E começam as perdas,
Perde-se o raciocínio rápido,
E então vem a calma,
E em seguida o horror."
"Agora nós temos como atributo na vida,
Todas as esperanças que se pode ter,
Longe estão os sonhos de felicidade, já se foram,
E tudo que nos resta é a destituição."
Daniel Kharms