quarta-feira, outubro 05, 2011

ao pai






Amava os finais de tarde no Rio. Era quando sua tosse atravessava o comprido corredor. Daí mamãe falava sem precisar: “seu pai.” Sempre que penso em saudade doída, lembro-me de você voltando para lá. Em São Paulo, meu choro e a doença da mamãe espremidos entre bloquinhos rabiscados.
Toda vez que penso na minha vida escolar, ouço nosso silêncio das 5h. Tempos de conselhos sem fim: “estude, leia, seja independente”. Ficaram.
A nossa veneração aos cinemas do centro. Salas fantásticas, imensas. O inesquecível Corcel Negro. Esforçava-me para ler a legenda muito rápida pra pouca idade. Solidário, de tempos em tempos, você perguntava: “quer que eu leia pra você?”. Grudada na tela, balançava rapidamente a cabeça negativamente. A nossa paixão por Blade Runner me rendeu um vinil.
Ah, e como poderia esquecer do E.T. A nossa inesquecível maior fila de todos os tempos. Entramos, mas o filme já havia começado. Enquanto procurávamos um lugar, policiais caçavam o extraterrestre. Não o encontram; mas Elliot, sim. Mergulhamos no subúrbio. No final, você inova: “vamos assistir de novo?"
Bob's na avenida Brasil. Um verdadeiro oásis. Sentada no balcão, virava quantos sucos de uva conseguisse. Ainda hoje consigo sentir o gosto da comida das inúmeras pensões que frequentamos no Rio e da comida enlatada que você teimava em comprar.
Já São Paulo tem gosto de Dom. No final dos anos 1970, a portinha lá na rua Aurora, quase esquina com a rua do Arouche, escondia garçonetes incríveis e os seus pratos dançantes. As mesinhas forradas com fórmica eram lindas, mas éramos da casa, pertencíamos ao balcão.