quarta-feira, outubro 01, 2014

Professor em ação

http://www.profissaomestre.com.br/index.php/reportagens/carreira-formacao/985-professor-em-acao Escrito por Analice Bonatto
Em qualquer área, cresce a demanda por profissionais que tenham a qualificação necessária para atender às necessidades do século 21; na educação, isso também acontece. Mas, diferentemente de outras profissões, muitas vezes os baixos salários e a desvalorização da carreira docente afastam a maioria dos profissionais que pensa em ir para a sala de aula. Recente pesquisa do professor José Marcelino de Rezende Pinto, da Universidade de São Paulo (USP), mostra que o número de formandos em licenciatura no país entre 1990 e 2010 seria suficiente (menos em Física) para atender à demanda atual por professores.
Além dos baixos salários e das más condições de trabalho, problemas na formação inicial, na fase de indução profissional e no trabalho permanente de formação continuada são responsáveis pelas deficiências do sistema de ensino.
Nesse cenário, ao ser questionada sobre o que é um bom professor, Sonia Perin, professora titular da Faculdade de Educação (FE) da USP, ressalta a complexidade da profissão: “Exigem muito dessa pessoa que é o professor; querem que ele resolva os erros, todos os problemas da sociedade. Mas é preciso ter parcerias com a sociedade”. De acordo com ela, se a escola é uma instituição da sociedade, é preciso ter responsabilidade em todos os seus níveis. Para Sonia, o professor precisa de uma boa formação de modo que, ao longo da vida, entenda o seu aluno – sujeito fundamental – e o sentido da escola. “O professor é bom quando as instituições e a sociedade são boas. Agora, dificuldades vão existir. Mas o principal é o professor ter a postura de inquiridor, de aprender a cada situação, de entender o que se passa com o seu grupo de alunos, com a escola. Para isso, ele precisa ter espírito investigativo. É preciso, na formação inicial, fazer da profissão uma pesquisa em ação”.
Formação inicial
Segundo Bernadete Gatti, pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas (FCC), a questão da formação inicial do professor no Brasil é grave, pois os profissionais vão para a sala de aula sem saber dar aula. “Às vezes não conhecem nem o currículo da educação básica. As licenciaturas estão na UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”. Ela avalia que, apesar de muitos jovens optarem pela carreira, eles não têm na universidade uma formação adequada. “Desde que a licenciatura nasceu, ela sempre foi um adendo genérico do bacharelado”, explica Bernadete, que é uma das coordenadoras da pesquisa da FCC sobre formação de professores para o ensino fundamental. Quando esse aluno vai para o mercado de trabalho com essas deficiências, gasta-se mais; há custo para formá-lo na graduação e, depois, para fazer a mesma formação na formação continuada, considera a pesquisadora: “A nossa formação continuada não é propriamente uma formação continuada – que deveria aprofundar conhecimentos –, ela é suprimento”. Para Bernadete, a falta de políticas que atuem na formação inicial é uma questão muito grave, porque não há mudança curricular na estrutura dos cursos de licenciatura. “Os países avançados e emergentes têm em suas universidades um centro de formação de professores, mas aqui não há uma concepção de formação de professor da educação básica. Você forma o biólogo, e não o professor de biologia. Nós temos uma fragmentação formativa com uma tinta de educação. É preciso mudar a formação inicial, a estrutura, onde ela se faz, a dinâmica de como se faz e os conteúdos curriculares. Senão, vamos continuar repetindo os mesmos erros, e quem já está atuando ou está ingressando na carreira terá de receber uma formação em serviço”, afirma.
Recém-chegados e sozinhos
O professor português António Nóvoa, um dos maiores especialistas em formação de professores, falou com a Profissão Mestre sobre a fase de indução profissional, ou seja, o início da atuação docente. Segundo Nóvoa, esses dois ou três primeiros anos iniciais, momento em que alguém é introduzido na profissão, são decisivos para o professor. “Há 50 anos sabemos que esses são os anos mais importantes; no entanto, as pessoas estão completamente desprotegidas e sozinhas”, afirma Nóvoa.
Elisangela Carolina Luciano, professora de Mogi Guaçu (SP), é um exemplo desse início solitário. Ela conta que, na década de 1990, morava em uma cidade do interior cuja economia era baseada na agricultura e não havia muita opção de emprego, principalmente para as mulheres. Assim, o caminho natural foi seguir para o curso de Magistério, até como uma maneira de fugir do destino de trabalhar na lavoura. A escolha consciente pela profissão veio ao final do curso, quando ela entrou na faculdade. No início da carreira, ela já sabia que professor novo fica com as salas mais complicadas, com os alunos que têm mais dificuldades. “É claro que uma sala assim devia ser dada ao professor mais experiente, mas quem ingressava já sabia que ia pegar as salas mais complexas”, conta Elisangela, que foi escolhida Educadora do Ano de 2013 (por meio do Prêmio Educador Nota10, da Fundação Victor Civita), por seu projeto de alfabetização, leitura e escrita. Segundo ela, o começo é difícil. “É um trabalho muito solitário. É o professor dentro da sala de aula com a porta fechada”. Elisangela ressalta que ainda não se tem a consciência de que o aluno não é do professor. “O aluno é da escola, por isso todos devem se comprometer com ele. Eu acho que o que vai fazer o grupo ter esse sentimento de pertencimento é o desenvolvimento de um projeto político-pedagógico confeccionado por todos, que contemple todas essas questões. Daí, com papéis bem definidos, mesmo se chegar à escola um novo professor, o grupo já se encarrega de incluí-lo”, afirma.
Sem isso, Elisangela acredita que o cotidiano do professor seja quase sempre o mesmo, com cada um desenvolvendo o seu trabalho individualmente. “Eu tenho, por exemplo, dificuldade em seguir o livro didático, o material apostilado, e de repetir o trabalho feito no ano anterior. Estou sempre inventando e pensando coisas novas. A minha prática se identifica muito com os alunos daquele ano. Eu preciso conhecê-los para desenvolver um trabalho ajustado a eles”, conta. Apesar de no início do ano os professores se reunirem com a rede de ensino para pensar o planejamento anual, não há uma reunião com os professores na escola para conhecer o grupo de alunos com o qual eles trabalharão. “No dia a dia da escola, não há espaço para essas discussões tão necessárias”, lamenta Elisangela.
Para a professora da USP Sonia Perin, os primeiros anos são os mais críticos. “Nas reuniões internacionais sobre formação de professores, uma das preocupações a respeito do trabalho docente é como ele é recebido. Dessa forma, o seu trabalho, nos primeiros anos na escola, e o apoio do grupo e da equipe são fundamentais para o processo de aprendizagem dos iniciantes”, explica. E isso já é realizado não mais pela instituição formadora – as universidades, as faculdades de educação, os institutos etc. –, mas sim pelas instituições empregadoras que são os sistemas de ensino. “Depende muito dessas instituições formadoras também”, acrescenta.
Sonia defende que a formação inicial do professor deve inclusive dar um caráter de professor inquiridor. Dessa forma, ao chegar à escola, o professor iniciante pode questionar o que está se passando nela e observá-la sob diferentes aspectos: o tipo de aluno, de escola e de comunidade. “Sempre que a pessoa chega à instituição, ela é um objeto de análise. E se o professor aprendeu a fazer investigação na formação inicial, isso já lhe dá condições melhores para enfrentar o início em sala de aula”, considera a professora. Em recente pesquisa desenvolvida por ela com alunos que estão no início da graduação e com os egressos até cinco anos, é possível constatar essa dificuldade para enfrentar a realidade escolar. Sonia conta que os alunos pesquisados que estavam no terceiro e no quarto ano da graduação, ou seja, se preparando para sair da faculdade, contavam que não se sentiam preparados, pois estavam com medo das questões práticas do dia a dia.
Diante de uma sala de aula
O momento em que entrou na profissão foi decisivo para o professor Gelson Weschenfelder. Ele conta que teve um início bem complicado: “Eu entrei como estagiário e, infelizmente, a graduação não me preparou para a sala de aula. Na época em que eu entrei na escola, a filosofia não era obrigatória, e eu não sabia ao certo o que trabalhar em sala de aula. Na terceira semana, os alunos fizeram um abaixo-assinado para me retirar da escola. Isso foi muito difícil. Daí eu comecei a pensar sobre a minha atitude e o que poderia fazer para introduzir algumas questões de filosofia”, conta. E completa: “Usei uma frase que norteia a vida de um super-herói: ‘grandes poderes trazem grandes responsabilidades’, doHomem-Aranha. E o bacana foi que a partir daí os alunos começaram a trazer teorias de filósofos, sociólogos”, conta Gelson, que é professor no Complexode Ensino Superior deCachoeirinha (Cesuca), no Rio Grande do Sul. Nesse momento, o professor conta que percebeu que os alunos queriam buscar algo, tinham esse anseio, mas faltava um tema que os despertasse para isso. Assim, de maneira original – por meio de temas que chamam a atenção dos jovens, como as HQs (histórias em quadrinhos), ele mudou sua forma de dar aulas e conquistou os alunos.
Hoje Weschenfelder é professor universitário, mas o começo da carreira nos ensinos fundamental e médio o motivou a pesquisar mais sobre o tema. “O início foi difícil, e depois precisei pesquisar mais sobre como trabalhar com o adolescente, mas isso motivou meu mestrado. Depois saíram algumas publicações, algumas até com os alunos do ensino médio. Hoje faço o doutorado graças àqueles alunos que me colocaram ‘contra a parede’”, explica.
Ele reconhece que o processo poderia ter sido mais simples e menos sofrido. “Infelizmente, eu vejo essa angústia em sala de aula. A educação não está preparada para esses jovens em sala de aula, por isso é preciso repensar a forma de olhar o aluno. Em diferentes escolas, pedi apoio a outros professores para trabalhar com projetos, mas houve muita resistência deles. Faltam muitas coisas à escola e o professor acaba tendo muitas outras funções, mas ele poderia promover essa mudança onde está inserido”, salienta.

Matéria publicada na edição de outubro de 2014. Leia a matéria na íntegra na edição impressa.

terça-feira, setembro 16, 2014

a vida e a obra do Graça

Mostra sobre o autor, de 16 de setembro a 9 de novembro, no Museu da Imagem e do Som (MIS) - Av. Europa, 158, Pinheiros, SP.

http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-redacao/objetos-pessoais-de-graciliano-ramos-sao-destaque-de-mostra-sobre-326957-1.asp

domingo, agosto 31, 2014

“Quem nos leva a escrever é Flash Gordon”


o escritor e os eventos literários

"Nesse meio autofágico, o marketing que funciona melhor não é do escritor popstar é do escritor integrado, aquele que circula no meio acadêmico, que trabalha em editoras, que é amigo dos editores e jornalistas, que senta com ele nas mesas de bar. Pouco tem a ver com o peso obra - muitos dos autores que mais circulam ainda dão os primeiros passos na escrita. Diversos veteranos de peso ficam de fora por não participarem do lobby. O grande Evandro Affonso Ferreira, vencedor do Jabuti de melhor romance ano passado, é um ótimo exemplo." http://www.santiagonazarian.blogspot.com.br/2014/08/fora-da-festa.html

sábado, agosto 30, 2014

Literatura e Oralidade




Assista ao debate Escrita & Oralidade http://vimeo.com/14870941 sobre as conexões entre literatura escrita e tradição oral promovido pela Divisão de Bibliotecas. Palestrantes convidados: Profª. Drª. Maria Aparecida Junqueira, coordenadora da pós-graduação em Literatura e Crítica Literatura da PUCSP e o Professor Drº. Fernando Segolin, pós-doutor pela Universidade de Lisboa e professor titular da pós-graduação em Letras e Crítica Literária da PUCSP.


domingo, junho 08, 2014

Qual o seu percurso (escolar) no processo narrativo?



Minha experiência foi muita boa. Lembro-me de que a partir da 5ª série minha professora chamava a atenção para a forma como o autor havia construído seu texto, por exemplo, se ao optar por esta ou aquela forma, ele visava a um efeito. E ali eu comecei a pensar se era a intenção do escritor desde o início ter escrito daquela forma, por que aquele texto era diferente de outros etc
Para ampliar o nosso repertório, ela se utilizava sempre de meios para além do texto escrito: fotografias, música, filmes entre outros. Nós também líamos muitos livros ao longo do ano que eram sempre cobrados por meio de provas.
Esta professora também nos fazia analisar e produzir muitos textos ao longo do ano; mas ela sempre trabalhava por etapas. Aos poucos, a classe trabalhava com o enredo, o conflito, o processo de construção da personagem, do narrador, do espaço, do tempo e o clímax. Isso resultava numa convivência maior com os elementos da história e com as personagens que criavam vida ao longo do ano. Em algumas aulas, a professora promovia também o encontro das personagens. Assim, divididos em duplas ou trios escrevíamos uma história a ‘quatro’ ou ‘seis’ mãos.

sexta-feira, junho 06, 2014

Portfólio




Nos portfólios, os educadores têm documentado (numa pasta ou dossiê ou em suporte digital) seu percurso profissional, com as obras mais marcantes e significativas. Segundo Terezinha Guerra, os educadores contemporâneos sugerem que seja feita dessa forma a organização dos registros dos alunos e também os do professor.
João Grilo Alandroal ressalta que o portfólio é uma coleção pequena e organizada, com muito critério, de materiais produzidos apenas pelo professor ou também com outros colaboradores. Ele ainda destaca que o material seja representativo: do seu trabalho; do seu estatuto profissional; da sua competência pedagógica; do seu conhecimento dos conteúdos que leciona; de outros atributos pessoais e profissionais que contribuem para o tornar um professor único.
Quanto à história do portfólio, Alandroal nos conta em seu blog que o conceito de portfólio sofreu muitas mudanças ao ser usado na área da educação, sobretudo, na avaliação do desempenho dos professores. Seu início nesta área acontece, nos anos 1970, no Canadá, e é chamado de ‘teaching dossier’. Mas o ‘portfolio movement’ aconteceu, nos anos 1990, nos EUA. É daí que veio um dos primeiros textos que tratava do assunto de forma teórica: “The scholteacher’s portfolio: an essay on possibilities”, de Tom Bird. Atualmente, os portfólios ganharam destaque em âmbitos tão diversificados como, por exemplo: a avaliação da aprendizagem dos alunos;
a avaliação de professores em formação e certificação de professores; a avaliação dos professores universitários; como forma especial de Curriculum vitae, demonstrativo de determinadas competências e capacidades para determinado emprego ou função.
Segundo Elisa Kerr, o portfólio só faz sentido se for para despertar e aprimorar as competências dos educandos. Dessa forma, ela sugere que façamos a questão:  “Como trabalhar a atividade para colocar no portfólio”. Para ela, pode ser: avaliação, projetos, atividades, pesquisas etc.
João Grilo Alandroal ressalta que o portfólio deve conter materiais e recursos produzidos pelo professor ou em colaboração com outros.
E ainda, de acordo com Terezinha Guerra, o portfólio deve trazer rascunhos, projetos, anotações, reflexões, trabalhos individuais ou em grupo, relatórios, entre outros marcos significativos de aprendizagem.  O professor também deve elaborar o seu portfólio, de cada classe, com registros de cada aluno ou grupos de alunos, com suas reflexões, anotações, avaliações, enfim, com a história de seu percurso com aquele grupo de alunos que lhe foi confiado naquele período de tempo.
Segundo Terezinha Guerra, é indispensável que os portfólios sejam compartilhados entre os alunos da classe, com outros professores da escola assim como com os pais. O portfólio do aluno deve ter suas produções e deve documentar sua trajetória durante um determinado projeto ou ano escolar. Como cada portfólio é único, deve sempre ter a marca de quem o elabora. Por isso, deve ser vivo, dinâmico e nunca algo burocrático, feito por obrigação, como um exercício sem sentido.
O portfólio deve ser feito tanto pelos professores quanto pelos alunos. Segundo Terezinha Guerra, cabe ao professor a orientação do aluno, que pode combinar os critérios de seleção dos trabalhos com a sua turma. Assim, podem fazer parte: textos, desenhos, rascunhos, projetos, entre outros marcos significativos de aprendizagem. Segundo ela, o material deve ser organizado de forma que destaque o envolvimento do aprendiz no processo de ensinar/aprender.