Citando Anatole France, Leonardo Arroyo (1968, p.26) comenta sobre a repugnância que sentiam algumas crianças diante de ‘livros feitos para elas’, apontando então duas características da má literatura infantil: a puerilidade e o tom moralizante. Ao examinarmos os estudos sobre as primeiras obras para crianças publicadas no Brasil, podemos também perceber seu traço pedagógico e moralizador.
A literatura infantil brasileira nasce quase no século XX, mas desde o século XIX começa a surgir uma ou outra obra direcionada à criança. A Literatura infantil européia inicia às vésperas do século XVIII, quando em 1697 o francês Charles Perrault publica “Contos da Mamãe Gansa”. “Charles Perrault coleta contos e lendas da Idade Média e adapta-os, constituindo os chamados contos de fadas, por tanto tempo paradigma do gênero infantil” (CADEMARTORI, 1986, p. 33). Dessa forma, citando E. Montegut, Jesualdo Sosa (1978, p.130) diz que as personagens de Perrault “não sabem exatamente o que seja moralidade, ou imoralidade. Sabem, isto sim, o que sejam fineza, bondade, malignidade, prudência, curiosidade...”
Em Literatura Infantil Brasileira, Histórias & Histórias, as autoras Marisa Lajolo e Regina Zilberman comentam que as primeiras obras destinadas ao público infantil apareceram no mercado livreiro na primeira metade do século XVIII.
Anteriormente foram escritas histórias apenas no classicismo francês (século XII), como as Fábulas, de La Fontaine, os Contos da Mamãe Gansa, cujo título original era Histórias ou narrativas do tempo passado com moralidades, que Charles Perrault publicou em 1697, reunidas depois como literatura própria para crianças. Segundo as autoras, além do autor francês começar a literatura infantil, ele literalizou os contos de fadas.
O fato de Perrault não assinar a primeira edição indica as dificuldades do gênero que se inicia. “Desde o aparecimento, ele terá dificuldades de legitimação. Para um membro da Academia Francesa, escrever uma obra popular representa fazer uma concessão a que ele não podia se permitir”. (LAJOLO e ZILBERMAN, 1988, p.15).
E na esteira desse raciocínio, a literatura infantil brasileira, considerada um gênero menor dentro do universo literário, perde com o desprezo por parte dos teóricos de que nos fala Leonardo Arroyo: “poucos autores a ela se referem com objetivos críticos” (1968, p. 216). Ao falar da perspectiva adotada em Literatura Infantil Brasileira: histórias & histórias, Marisa Lajolo e Regina Zilberman ressaltam que normalmente os trabalhos sobre literatura infantil desconsideram o diálogo com os outros textos e voltam-se ao seu caráter educativo.
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