O romance A invenção de Morel (1940), de Adolfo Bioy Casares, é considerado pela crítica um dos maiores da literatura latino-americana e é descrito como perfeito tecnicamente por Jorge Luis Borges no prefácio da obra.
No Brasil, a obra é publicada pela editora Cosac Naify, na coleção Prosa do Observatório, em 2006, quando recebe o posfácio de Otto Maria Carpeaux, texto publicado em 1966, no jornal O Estado de São Paulo, no qual o crítico ressalta o caráter prodigioso da obra de Casares. Para Carpeaux, à época, a seleção dos autores hispano-americanos para serem publicados no país deveria privilegiar “o que é muito bom” e o que não temos no país, ou seja, obras inéditas como as de Adolfo Bioy Casares. Desta forma, evita-se a divulgação de obras que, embora boas, tenham equivalentes na literatura brasileira. E os leitores brasileiros podem conhecer, conforme Carpeaux, ‘histórias para se espantar’, como A invenção de Morel.
Quando iniciamos a leitura de A invenção de Morel, caminhamos junto com o narrador-protagonista - que é um mistério tão grande quanto a enigmática ilha ou seus intrusos indecifráveis -, tateando a história perturbadora e densa que produz altercações geniais. O argumento é forte o suficiente para nos perdermos para muito além das tramas policiais e acelerarmos o passo em emoções extraordinárias.
Ao adentrarmos neste mundo fantástico de Casares, mas ‘não sobrenatural’, como observa Borges, somos levados - por meio de uma linguagem labiríntica, com frases quebradas -, do paraíso ao pântano, do céu ao inferno, já no primeiro parágrafo. A construção notável do início do romance é análoga ao que Borges na crítica sobre a obra em seu prefácio chamou de trama perfeita.
Na sequência, o narrador nos conta que acabamos de ler um registro do seu “adverso milagre”, um diário para a posteridade. A história de um condenado que levava uma vida horrível e foge para uma ilha que é foco de uma moléstia ‘que mata de fora para dentro’ em oito, quinze dias, mas ele já sobrevivia nela há mais de três meses. Ao decidir-se pela ilha, a personagem foge, na verdade, do que mata de dentro para fora.
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