quinta-feira, março 12, 2009

o mestre

a poesia de Caeiro - tido pelas demais personagens heteronímicas criadas por Pessoa, como o mestre de todas elas - , busca e propõe uma nova escritura sem signo, sem máscaras: a utópica poética do silêncio.
A proposta didática de Caeiro dessa paradoxal “aprendizagem de desaprender” pode ser sintetizada no verso “eu não tenho filosofia: tenho sentidos” (CAEIRO, p.42). Para entender a objetividade do sentido do texto caeiriano, é preciso saber que “Caeiro apresenta-se como o poeta das sensações estremes: “A sensação é tudo (...) e o pensamento é uma doença” – diz ele segundo um texto de Pessoa” (SEABRA, 1991, p.91).
Segundo Segolin, “a linguagem poética pessoana é, antes, uma linguagem que dialoga com outras linguagens”. A multiplicação de personalidades, na forma dos textos-personagens criados por Pessoa, demonstra que somos seres polifônicos, assim o “eu” que eu julgo ser é falso. Do autor que vê, interpreta, descobre esse outro “eu”, isto é, descobre o homem no homem, exige-se um novo enfoque desse homem – o enfoque dialógico (...) em outro “eu” que se auto-revela livremente (BEZERRA, 2007, p.193).
Sobre os textos-personagens, Segolin ressalta que cada um deles é uma experiência discursiva”. Um deles é Caeiro que não acredita no pensamento, pois pensar é produzir linguagens, dessa forma “a palavra ficaria sobrando – restariam apenas as coisas e os seres, e a presença puramente objetiva do homem” (SEGOLIN, 1992, p.51)
Para Jacinto do Prado Coelho, há dois Caeiros, “o poeta e o pensador, sendo o primeiro que em teoria se desdobra no segundo” (COELHO, 1969, p.19). Segundo José Augusto Seabra, Caeiro sabe que em poesia nomear é criar a realidade do que se diz.“E assim, por uma condição inerente à linguagem poética, ele não faz mais do que dar vida, através dos seus poemas, às próprias coisas” (SEABRA, 1995, p.95).
A idéia de que a linguagem literária se distancia da linguagem usual adquiriu importância em Aristóteles, “segundo o testemunho de Isócrates, considerava o processo de estranhamento como conatural ao discurso poético” (SILVA, 2006, p.44).
Assim, a poesia de Caeiro não é a escritura nova, mas à sua proposição “que só existiria na medida em que o homem lograsse anula-se e anular o signo, para só deixar falar a sensação objetiva”, (SEGOLIN, 1992, p.51)
Para tanto, em oposição à língua poética trabalhada, Caeiro poetiza o prosaico, “Caeiro opõe a discursividade linear e despojada de seus versos. (...) por meio de um caminho anti-poético, ele procura reencontrar uma nova linguagem poética”. (SEGOLIN, 1992, p.39). Caeiro auto-indaga-se sobre a possibilidade da criação de uma poesia anti-poética.
Percebemos ao longo da obra de Caeiro se repetir o tema que trata da ausência de significação e a demonstração da incapacidade que a linguagem demonstra ter de representar o real. “Para atingir a realidade em sua concretude pura, despida de quaisquer traços subjetivos e abstratizantes, é necessário renunciar ao signo, ao nome, à palavra enfim” (SEGOLIN, 1992, p.46).

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