quinta-feira, dezembro 16, 2010

revista v!rus

mais um número da revista v!rus, do nomads.usp,sobre o tema DESENHANDO COEXISTÊNCIA.
http://www.nomads.usp.br/virus/virus04/

segunda-feira, novembro 29, 2010

sexta-feira, setembro 17, 2010

Revista Fronteiraz-5

A Revista Fronteiraz está on line http://www.pucsp.br/revistafronteiraz/
Número especial de inauguração do seu vínculo direto com o Programa de Pós- Gradua dos em Literatura e Crítica Literária.

sexta-feira, julho 16, 2010

do ponto de vista de um gato


   
"Nada há de mais inescrutável do que a psicologia humana. É impossível discernir o atual estado de meu amo, se está irritado ou em paz, ou se continua procurando conforto nos escritos de filósofos defuntos. Não faço qualquer idéia se zomba da sociedade ou se a ela deseja se misturar, se está irado com coisas supérfluas ou muito acima das efemérides mundanas. Comparado a isso, gatos são criaturas simples. Quando temos fome, comemos; quando a vontade de dormir bate, dormimos; quando nos zangamos, ficamos realmente irados; e se choramos, é de forma desesperada. Em primeiro lugar, não mantemos algo tão inútil como um diário. Isso porque nos é desnecessário. Humanos de duas caras como meu amo provavelmente precisam escrever diários para neles extravasar, como em uma câmara escura, um lado de seu caráter camuflado perante a sociedade. Mas o verdadeiro diário dos que pertencem à espécie felina corresponde aos quatro comportamentos cardeais – andar, parar, sentar, deitar – e às atividades excretivas, que preenchem nosso cotidiano, inexistindo pois, em meu entender, necessidade em especial de preservar nosso verdadeiro caráter por meio de procedimentos de tal modo maçantes. Tivéssemos tempo para manter um diário, seria melhor desfrutar esse tempo cochilando na varanda."

Eu sou um gato
Natsume Soseki
Tradução do japonês e notas Jefferson José Teixeira
Estação Liberdade

quinta-feira, julho 15, 2010

Certeza de que não estamos certos

“Desejo de ir além das aparências,
tentar descobrir nas pessoas
qualquer coisa imperceptível aos sentidos comuns.
Compreensão de que as diferenças não
constituem razão para nos afastarmos, nos odiarmos.
Certeza de que não estamos certos, aptidão para
enxergarmos pedaços de verdade nos absurdos mais claros.
Necessidade de compreender, e se isto é impossível,
a pura aceitação do pensamento alheio”.
Graciliano Ramos

quarta-feira, julho 14, 2010

retalhos e tijolos

“Com tais detritos, (as crianças) não imitam o mundo dos adultos, mas colocam os restos e resíduos em uma relação nova e original. Assim, as próprias crianças constroem seu mundo de coisas, um microcosmos no macrocosmos. O conto de fadas é uma dessas criações compostas de detritos – talvez a mais poderosa na vida espiritual da humanidade, surgida no processo de produção e decadência da saga. A criança lida com os elementos dos contos de fadas de modo tão soberano e imparcial como com retalhos e tijolos”.
Walter Benjamin


[...] Freud pergunta: ‘Será que deveríamos procurar já na infância os primeiros traços de atividade imaginativa? A ocupação favorita e mais intensa da criança é o brinquedo ou os jogos. Acaso não poderíamos dizer que ao brincar toda criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade? Seria errado supor que a criança não leva a sério a sua brincadeira e dispende na mesma muita emoção. A antítese de brincar não é o que é sério, mas o que é real. [...] O escritor criativo faz o mesmo que a criança que brinca. Cria um mundo de fantasia que ele leva muito a sério, isto é, no qual investe uma grande quantidade de emoções, enquanto mantém uma separação nítida entre o mesmo e a realidade. A linguagem preservou essa relação entre o brincar infantil e a criação poética.’
Outros heróis e esse graciliano
(FELINTO, 1983, p. 44-45).

personagem

“Só posso escrever o que sou.
E se as personagens
se comportam de modos diferentes,
é porque não sou um só”
Graciliano Ramos

quarta-feira, julho 07, 2010

When the night has come

"O viajante surpreendido pela noite pode cantar alto no escuro para negar seus próprios temores; mas, apesar de tudo isto, não enxergará mais do que um palmo adiante do nariz." Freud

"Não sei até que ponto não seremos por toda a vida um menino/uma menina a assobiar no escuro." Lobo Antunes

(...)
"Down the dark streets, the houses looked the same,
getting darker now, faces look the same,
and I walked round and round,
No stomach, torn apart,
nail me to a train.
Had to think again
trying to find a clue, trying to find a way to get out.
Trying to move away, had to move away and keep out."
Interzone
Joy Division


(...)
Walk in silence,
Don´t walk away in silence.
See the danger,
Always danger.
Endless talking,
Life rebuilding,
Don´t walk away."
Atmosphere
Joy Division


"When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we see
No I won't be afraid
No I won't be afraid
Just as long as you stand, stand by me
"Stand by Me", de Ben E. King

sexta-feira, abril 30, 2010

Quem é você?



– Eu… Eu neste momento não sei muito bem, minha senhora… Pelo menos, quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que depois mudei várias vezes…
– O que você quer dizer com isso? – perguntou a Lagarta secamente. – Você não pode se explicar melhor?
– Eu acho que não consigo me explicar, minha senhora, pois não sou mais eu mesma, como a senhora pode ver.
– Não vejo nada… – disse a Lagarta.
– Receio que eu não possa ser mais clara – respondeu Alice educadamente – já que, para começar, eu mesma não consigo entender o que se passa. E, além do mais, ficar de tantos tamanhos diferentes num só dia é uma coisa que deixa a gente muito confusa.”

Alice no País das Maravilhas
Lewis Carroll
Nicolau Sevcenko (tradução)
Cosac Naify




segunda-feira, abril 12, 2010

Mas amo por amar, que é liberdade

E pois coronista sou.

Se souberas falar também falaras
também satirizaras, se souberas,
e se foras poeta, poetaras.

Cansado de vos pregar
cultíssimas profecias,
quero das culteranias
hoje o hábito enforcar:
de que serve arrebentar,
por quem de mim não tem mágoa?
Verdades direi como água,
porque todos entendais
os ladinos, e os boçais
a Musa praguejadora.
Entendeis-me agora?

Permiti, minha formosa,
que esta prosa envolta em verso
de um Poeta tão perverso
se consagre a vosso pé,
pois rendido à vossa fé
sou já Poeta converso

Mas amo por amar, que é liberdade.

Gregório de Matos

Crônica do Viver Baiano Seiscentista
obra poética completa
Códice James Amado
Vol. I


quarta-feira, março 03, 2010

Literatura infantil - Dr. Seuss: mestre nas rimas



Entre as diversas obras, destacam-se:
OH, THE THINKS YOU CAN THINK!
OH, THE PLACES YOU'LL GO

sexta-feira, janeiro 22, 2010

sinais

A construção da personagem Dr. Raimundo Pelado em “A terra dos meninos pelados”, de Graciliano Ramos

1937 - prêmio de Literatura Infantil do Ministério da Educação e Saúde;
Publicado em 1939;
Entre 1920 e 1945, a produção literária para crianças ganha destaque - Narizinho Arrebitado (1921);
Dez anos depois, Lobato dá início à etapa mais fértil da literatura infantil brasileira;
Romancistas e críticos de 30 compartilham deste período.

Sob a influência da palavra antecipável do outro, entra em polêmica interior;

“Dr.” Símbolo, importante, amplamente conhecido no meio social. Raimundo deturpa o apelido “pelado” por meio da polêmica;

Coloca-se numa forma superior em relação à hostilidade dos garotos;

Pelado: fundiu inteiramente sua voz;

Raimundo Pelado: reforça suas próprias palavras,
aceitando-as como autorizadas;

Dr. Raimundo Pelado: reveste terceiras palavras com suas intenções.

Teme que o outro possa imaginar que ele lhe teme a opinião. Mas com esse medo mostra justamente a sua dependência em relação a outra consciência. (BAKTIN, 1997, p. 232, grifo do autor).

Outra relação com o discurso do “outro”: vontade de fugir de seu julgamento;

Substitui com sua própria voz a voz de outra pessoa;

Desenvolve-se um diálogo sem fim da polêmica interior do herói com o “outro” e consigo mesmo.

Raimundo entristecia e fechava o olho direito. Quando o
aperreavam demais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo. E a cara ficava toda escura. Não tendo com quem entender-se, Raimundo Pelado falava só, e os outros pensavam que ele estava malucando. Estava nada! Conversava sozinho e desenhava na calçada coisas maravilhosas do país de Tatipirun, onde não há
cabelos e as pessoas têm um olho preto e outro azul. (2007, p. 7).


A segunda voz passa de diálogo interior para diálogo aberto;

Os “outros” têm dúvidas sobre a sanidade de Raimundo;

A dúvida do “outro” interfere no seu comportamento (falar sozinho, brincar sozinho);

A exclamação retórica “estava nada!” pode ser interpretada como do autor, mas também, ao mesmo tempo, como exclamação da personagem orientada a si mesma.

Raimundo inicia a composição de Tatipirun: dosa e manipula o elemento, no caso a areia, que vai formar a serra de Taquaritu;

No final do embate das crianças, a polêmica emerge numa polêmica aberta;

Gradação em ordem descendente;

– Quem raspou a cabeça dele? perguntou o moleque do tabuleiro.
– Como botaram os olhos de duas criaturas numa cara? berrou o italianinho da esquina.
– Era melhor que me deixassem quieto, disse Raimundo baixinho. Encolheu-se e fechou o olho direito. Em seguida foi fechando o olho esquerdo, não enxergou mais a rua. (RAMOS, 2007, p. 9, grifo nosso).

Raimundo ingressa numa nova história, que transcorrerá em Tatipirun;

Todos têm o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça raspada;

A palavra “dos outros” atua veladamente sobre o discurso de dentro para fora de Raimundo;

Diante de situações inexplicáveis, a “exceção” o atrapalha;

Raimundo não tem uma definição objetiva de si mesmo.

O seu discurso é exagerado e extravagante: “- Como vai sua princesência?

Raimundo é apressado em suas conclusões.

Personagens

Sardento – tem um “projeto”. Percebemos aí que Raimundo reconhece a diferença: “[...] a gente não é rapadura” (RAMOS, 2007, p. 48). A angústia é não ser aceito;

Caralâmpia – Respeito – “Por que é que não pode haver princesência?” / admite, nos outros, maneiras diferentes de pensar. Bakhtin (1997, p. 246) diz: o discurso penetrante é capaz de interferir no diálogo interior do outro, ajudando a reconhecer sua própria voz.

Despedida – “preciso estudar / consertar a minha lição de geografia” – reflexão / refazer;

E irrompe o monólogo de Raimundo com evasivas e réplicas;

A palavra com evasiva torna o herói ambíguo para si mesmo. Raimundo não sabe de quem é a opinião ou a afirmação. “Para abrir caminho em sua própria direção, ele deve percorrer um imenso caminho”. (BAKHTIN, 1997, p. 237);

Raimundo absorve as réplicas do outro e as reelabora. As palavras do segundo interlocutor não aparecem, mas determinam todas as palavras de Raimundo.

O discurso de Raimundo busca simular sua indiferença ao discurso do outro; no diálogo consigo mesmo, substitui com sua própria voz a voz de outra pessoa;

Ele busca abrir caminho em sua própria direção, mas não se libertou da influência do “outro”;

O seu discurso é exagerado, assim há um discurso com mirada em torno e com evasivas;

No universo imaginário, ele se transforma praticamente numa personagem de si mesmo e participa ativamente dos diálogos (diretos) que articula (via pensamento) com as demais personagens – refletores dos desejos, dúvidas, curiosidades desse menino que brinca sozinho por ser rejeitado pelos demais.

do começo: Para estudar a construção dessa personagem,

adotamos o conceito de dialogia sistematizado pelo teórico russo Mikhail Bakhtin. Bakhtin e seu Círculo demonstraram que o conceito de dialogismo é um procedimento que constrói a imagem do homem num processo de comunicação interativa. Assim, podemos afirmar que a base da concepção dialógica da linguagem é o discurso que traz em seu interior o “outro”.
Bakhtin fez estudos das formas de citação do discurso e das formas de discurso bivocal para ilustrar a concepção do discurso que traz no seu interior o outro. O teórico considera o tratamento dialógico possível a qualquer parte significante do enunciado, inclusive, numa palavra isolada, se ouvimos nela a voz do outro.
Sintetizando, os tipos de discurso apresentados por Bakhtin são: 1) Primeiro tipo: discurso referencial direto e imediato – o discurso que nomeia, comunica, enuncia, representa. 2) Segundo tipo: discurso representado ou objetificado – discurso direto do herói. 3) Terceiro tipo: discurso orientado para o discurso do outro – discurso bivocal.

ideia

O discurso de Raimundo é marcado pela tensão. Ele não consegue ter uma definição consciente de si mesmo, pois o seu discurso é orientado em relação ao discurso do outro. Assim, não consegue reconhecer e nem se libertar do poder que tem o que os outros dizem ou pensam a seu respeito.
O discurso de Raimundo busca principalmente simular sua indiferença ao discurso do outro e, para contrariá-lo, a personagem lança palavras indesejáveis para ele. Por causa da influência da palavra antecipável do outro, Raimundo entra em polêmica interior desde o começo da narrativa.
Desenvolve-se também outra relação com o discurso “do outro”, a vontade de fugir do alcance dos olhares “do outro”, o desejo de se esconder. Nesse diálogo consigo mesmo, Raimundo substitui com sua própria voz a voz de outra pessoa. Assim, a segunda voz deve substituir o “outro” para ele mesmo. Essa voz passa de diálogo interior para diálogo aberto durante a imersão de Raimundo ao universo imaginário de Tatipirun e em monólogo ao final da viagem.
No universo imaginário, Raimundo se transforma praticamente numa personagem de si mesmo e participa ativamente dos diálogos (diretos) que articula (via pensamento) com as demais personagens – refletores dos desejos, dúvidas, curiosidades desse menino que brinca sozinho por ser rejeitado pelos demais.

resumo

Este trabalho possui dois capítulos, além da introdução e da conclusão. No primeiro capítulo, fundamentando-nos nos autores que tratam da história da literatura infantil buscamos as relações históricas da tradição do gênero que vêm do século XVIII até o período em que foi publicado “A terra dos meninos pelados”. Nesse capítulo, também pesquisamos sobre a crítica literária e o estudo da personagem.
Ao examinarmos os estudos sobre as primeiras obras para crianças publicadas no Brasil, podemos perceber que, ao remodelar a história original de Narizinho, Lobato dá início à etapa mais fértil da literatura infantil brasileira. Romancistas e críticos da década de 30 compartilham deste período, entre eles, está Graciliano Ramos ao criar a narrativa original “A terra dos meninos pelados”, em 1937, que apontou um dos rumos que a literatura infantil brasileira tomou: um universo inventado e corporificado pelo imaginário infantil.
Ao estudarmos a crítica literária e o estudo da personagem, percebemos que o conceito de herói está estreitamente ligado aos códigos culturais, éticos e ideológicos, dominantes numa determinada época histórica e numa determinada sociedade. Até a segunda década do século XX, nada, a rigor, se fez no sentido da elaboração de uma teoria da prosa ficcional. E a radicalização para uma nova concepção da personagem acontece com os formalistas russos. Esses teóricos, seguidos de perto pelos estruturalistas e semiólogos, fizeram estudos no sentido de perceber a personagem como um ser de linguagem.
No segundo capítulo, analisamos em detalhe o conto “A terra dos meninos pelados”, a fim de, à luz do conceito de dialogia sistematizado pelo teórico russo Mikhail Bakhtin, verificar como se dá a construção da personagem Raimundo. Assim, podemos perceber que sua construção faz-se por meio das vozes que vão compor a sua voz. Por se tratar de uma personagem dotada de sensibilidade, suas ações comprovam sua perspicácia. Ao colocar o “Dr.” em seu apelido depreciativo, Raimundo se apropria do título de doutor, graduação de respeito, termo amplamente conhecido no meio social, e lhe atribui outro sentido por colocá-lo em um novo contexto.
O discurso de Raimundo busca principalmente simular sua indiferença e independência do julgamento do outro. Assim, por causa da influência da palavra antecipável do outro, Raimundo entra em polêmica interior desde o começo da narrativa.
Dessa forma, procuramos passar pela investigação do projeto estético e do projeto ideológico da narrativa em questão.