quinta-feira, maio 22, 2014

O que é literatura, professor?



Assista à entrevista sobre os principais aspectos dessa linguagem artística que se ocupa de um fazer com a palavra. O que é esse fazer com a palavra? O que a literatura busca na palavra?
Antes de responder às questões, Fernando Segolin, professor doutor da Pós-Graduação em Crítica Literária da PUC-SP, faz uma importante ressalva com relação ao ensino de literatura.





O Programa Pensar e Fazer Arte é um projeto oriundo do Grupo de Ensino e Pesquisa em Interdisciplinaridade (Gepi - Pós em Educação: Currículo)

terça-feira, maio 20, 2014

O professor na educação do século 21

Escrito por Analice Bonatto
Outro professor e outra escola são necessários para atender às demandas do século 21, afirma o pesquisador e professor português António Nóvoa, um dos maiores especialistas em formação de professores. Ele esteve em São Paulo para o I Congresso Internacional e o III Congresso Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem – Diversidade no Ensinar e Aprender: Educação, Saúde e Sociedade, promovidos pela Associação Nacional de Dificuldades de Ensino e Aprendizagem (Andea) e pela Universidade Presbiteriana Mackenzie em agosto de 2013, e defendeu a necessidade de diálogo aberto com os colegas e a importância dos espaços para trocas de experiências. Antes do evento, Nóvoa concedeu uma entrevista exclusiva à Gestão Educacional. O ex-reitor da Universidade de Lisboa destacou que não se aprende por meio de um ensino transmissivo, mas a partir de pequenas redes e pequenos grupos, os quais não dependem apenas da proximidade física. Para ele, o desafio da aprendizagem não é mais a aquisição do conhecimento, mas fazer com que o aluno seja capaz de dar sentido às coisas, compreendê-las e contextualizá-las. Acompanhe a entrevista a seguir.

Gestão Educacional: Por que é necessário repensar o papel do educador na contemporaneidade?

António Nóvoa: Porque hoje as tarefas do professor são muito diferentes do que eram no passado. E os professores e as escolas vivem ainda em um mundo que em grande parte já não existe. Às vezes, nossas escolas se parecem com o brilho daquelas estrelas de que ainda vemos a luz, mas já estão mortas, extintas. Eu creio que precisamos de outro professor e de outra escola no século 21.

Gestão Educacional: Qual é o maior desafio no que se refere ao papel da escola no século 21?

Nóvoa: A aprendizagem é o grande desafio. O filósofo francês Michel Serres chama os novos alunos de geração do pequeno polegar. Ele explica que é uma geração que não se comunica, não pensa e não aprende da mesma maneira que as anteriores. Os novos alunos têm outras maneiras de estar na vida, de aprender, de trabalhar com o cérebro, e nós ainda não nos adaptamos a isso, mas é preciso que essa adaptação se faça. Se não compreendermos isso, podemos criar um fosso geracional que dificultará encontrar as melhores maneiras de conduzir esses jovens à aprendizagem. No passado, aprendíamos uma coisa e depois comunicávamos essa coisa. Havia dois momentos: o de aprender e o de comunicar o que aprendíamos. Hoje, esses dois momentos não existem, porque é no próprio processo de comunicação que se gera aprendizagem e conhecimento. Por isso, a comunicação tem valor diferente do que tinha no passado, valor que, muitas vezes, não compreendemos ainda e não estamos suficientemente atentos a ele. Olhamos muitas vezes para a comunicação como indisciplina, incapacidade ou para o aluno que está disperso a fazer coisas que não as que pedimos para fazer, ao invés de conseguirmos utilizar a nosso favor esse potencial de comunicação que existe nas novas gerações.

Gestão Educacional: Como o professor deve ensinar os alunos da geração do pequeno polegar?

Nóvoa: Isso implica obviamente um conjunto de mudanças que leve à percepção de que, muito mais do que consumir conhecimento, é importante a criação de conhecimento na escola. É no ato da criação que se dá a dinâmica da aprendizagem. Mas é claro que não se cria em cima do nada, não se cria no vazio, mas a partir de um conjunto de atividades. [É preciso] perceber a importância das redes, pois não se aprende por meio de um ensino transmissivo, mas a partir de pequenas redes, de pequenos grupos que podem ser de proximidade física ou de internet. Esse potencial que está nas redes é imenso e se aprende por meio de um exercício de capacidade de ligar e sistematizar conhecimentos, muito mais do que a partir da ideia de que é preciso se apropriar do conhecimento e ter um ensino transmissível etc. Hoje, o desafio da aprendizagem não é o da aquisição do conhecimento. O nosso problema é fazer com que o aluno seja capaz de dar sentido às coisas, compreendê-las e contextualizá-las.

Gestão Educacional: Quais mudanças são necessárias para que a escola seja capaz de atender a esses desafios?

Nóvoa: Ela tem de ser uma escola também construída em redes, em espaços diferentes. A sala de aula é uma ideia que progressivamente vai desaparecer para se criarem outros espaços. E isso implica que os professores coletivamente se apropriem desses espaços e deem sentido ao seu trabalho escolar. Nós já não precisamos de bons professores, que deem boas aulas em salas de aula. É melhor que deem boas aulas do que más aulas (risos), mas não é disso que precisamos. Hoje precisamos de um professor capaz de trabalhar com os outros colegas, que seja capaz de organizar as atividades do conjunto da escola em sua imensa diversidade, e não como em uma fábrica.

Gestão Educacional: Se cada escola é única, qual é o caminho para melhor proveito do potencialdelas?

Nóvoa: Esse é um dos grandes desafios que temos pela frente. Eu me recordo daquela célebre frase de Jules Ferry[ministro francês da Instrução Pública no final do século 19], o homem que instalou o ensino laico, obrigatório e republicano, que disse uma vez, sentado em seu gabinete: “não há nada que me dê mais prazer na vida do que saber que neste dia, nesta hora, às 10 horas da manhã, todos os alunos, em toda França, estão a fazer o mesmo ditado”. Essa ideia de uniformização levada ao extremo por essa frase é obviamente o contrário do que precisamos hoje. Nós precisamos de uma escola que esteja enraizada na sociedade, em suas diferenças e que, por isso, seja capaz de construir projetos distintos e escolas diferentes. As escolas de formação de professores até 40, 50 anos atrás, em todo o mundo, chamavam-se escolas normais. E por que se chamavam assim? Porque eram escolas que pretendiam normalizar o ensino. Temos de fazer exatamente o contrário. Hoje, nós precisamos de escolas anormais. Precisamos de escolas que sejam o contrário dessa normalização e possam atender à diversidade de situações.

Gestão Educacional: Qual o papel do professor nesse processo?

Nóvoa: Todas essas mudanças levam a uma grande transformação do que são os processos de aprendizagem e, por essa via, isso também é papel do educador na contemporaneidade. O grande educador português Sérgio Niza diz que é preciso que os professores aprendam com a medicina a fazer diagnósticos. O professor precisa saber o que faz falta a uma criança ao invés de empurrá-la para fora da escola, de excluí-la da sociedade. Ele precisa utilizar o seu conhecimento em prol da inclusão e da capacidade de ensinar as crianças que não têm projeto escolar inscrito no seu percurso de vida. E, hoje, cuidar do aluno é cuidar de sua aprendizagem.

Gestão Educacional: Nesse contexto, qual a importância da formação continuada e da atualização do professor?

Nóvoa: Para que esse professor capaz de trabalhar com os outros colegas possa emergir, é preciso que haja um trabalho permanente de formação continuada. Uma formação continuada que não é ir fazer cursos, simpósios ou encontros, mas que está no interior do próprio trabalho da escola. A formação continuada se faz nesse exercício de procura, de reflexão e de debate. Muitas vezes, é preciso convidar alguém para ir à escola trabalhar com o grupo certas matérias ou as questões de tecnologia. Mas a formação continuada não é fazer curso disso ou daquilo, porque isso é completamente inútil do ponto de vista da formação continuada. No fundo, o que eu disse sobre a aprendizagem é coerente com a organização da escola: no interior da organização da escola está o problema da formação continuada do professor.

Gestão Educacional: No Brasil, várias reformas educacionais já foram feitas. Entretanto, os cursos de formação docente continuam obsoletos. A formação docente deve ser encarada como prioridade para resultados eficientes?

Nóvoa: Antes da formação docente, há um problema que hoje se equaciona em todo mundo: nós só conseguimos resolver muitos problemas da escola se conseguimos atrair para a profissão docente os melhores jovens, os mais motivados etc. Por muitas razões, os jovens não vêm para a profissão docente no Brasil nem no mundo. É uma profissão desprestigiada, muito violenta e muito difícil, mas que as pessoas acham que é fácil de desempenhar. Depois, temos um grande investimento para fazer na formação docente, e os cursos de formação estão totalmente inadequados e desajustados. Hoje, eles pararam no tempo e não têm sido capazes de se renovarem e se reorganizarem. Há ainda um terceiro problema, e que talvez seja o maior de todos, que é a fase de indução profissional, isto é, quando a pessoa acaba o curso e começa a ser professor. Esses dois ou três primeiros anos iniciais, momento em que se introduz alguém na profissão, são os anos decisivos do professor. Há 50 anos sabemos que esses são os anos mais importantes; no entanto, as pessoas estão completamente desprotegidas e sozinhas. E, depois, a formação continuada na perspectiva de que já falamos, ou seja, centrada na escola e em práticas de formação cooperada. No fundo, temos etapas importantes: o recrutamento, que é um tema muito importante das políticas públicas hoje, os programas de recrutamento do professor, a fase de indução profissional e, depois, a formação continuada.

Gestão Educacional: Qual a importância da valorização do professor nesse processo?

Nóvoa: Claro que as questões salariais são muito importantes nesse processo. Eu sempre digo aqui no Brasil que não há grande diferença entre o salário de um professor primário e o de um professor da universidade em Portugal. Já aqui há uma diferença enorme entre um e outro. Há também um problema de afirmação de uma cultura profissional, a qual chamo de colegialidade docente, que é a capacidade de trabalhar em conjunto. Tudo isso são fatores muito importantes de afirmação do prestígio do professorado, mas é claro que é uma guerra que vai demorar muito tempo.

Gestão Educacional: Como isso deve acontecer na prática?

Nóvoa: Depende muito de fenômenos que são internos e externos. O estatuto salarial e as condições de trabalho nas escolas – porque não há prestígio quando o professor está em duas ou três escolas – são exemplos de fenômenos externos. Outro [fenômeno] muito importante (que por razões históricas seria complicado explicar agora) é que os professores perderam o controle da formação dos professores, isto é, quem forma o professor não é outro professor. Ele é formado por pessoas que estão nas universidades e, muitas vezes, nunca entraram em uma sala de aula. Houve um afastamento entre a profissão e a formação. Isso desprestigia porque transforma a formação numa coisa mais técnica do que propriamente profissional. É preciso políticas que valorizem salarialmente o professor e que, nas universidades, aproximem os professores da formação. Os problemas internos à profissão residem em uma espécie de cultura individualista, na dificuldade de trabalhar em conjunto e nas dificuldades de ter práticas de avaliação da profissão. Por exemplo, um professor pode conviver facilmente com outro, em uma sala de aula ao lado da dele, que trata mal os alunos e é incompetente. O professor pode viver 10, 20 anos com isso porque sabe que, se for levantar algum problema, isso vai trazer um conflito. Os médicos, por exemplo, não convivem com isso. Se um médico cometer dois ou três erros profissionais, as pessoas reagem. Há uma dinâmica de autoavaliação no interior da profissão.

Gestão Educacional: Em muitas escolas, os alunos questionam a autoridade do professor e, até mesmo, são violentos. Como o professor pode fazer o aluno respeitar o ambiente à sua volta?

Nóvoa: As gerações anteriores sempre acham que se perdeu autoridade e que já não há respeito. O que se escrevia há 50 anos sobre autoridade e desrespeito é muito pior do que se passa hoje. Eu não digo que hoje não há problema; é claro que há, mas é preciso distinguir duas ordens de problemas: o discurso da indisciplina e o discurso da violência, que é inaceitável, porque violência na escola não pode acontecer de forma alguma. A indisciplina também não, mas é preciso ver de que tipo de situação estamos falando. E é preciso inteligência para lidar com isso. Acho que há muitos professores que têm uma espécie de autoridade natural, que se impõe por ela própria, e há professores que, por mais autoritários que sejam, não têm autoridade nenhuma. Aliás, isso nos remete ao pensador suíço [Jean Jacques] Rousseau,quando escreveu no livro Emílio que “a criança só deve fazer o que quer”. Essa frase é sempre citada pelos educadores, mas as pessoas não leem o que ele escreveu a seguir: “mas só deve querer aquilo que os professores querem que ela queira. A criança não deve dar um passo sem que o professor saiba o que ela vai fazer, a criança não deve abrir a boca sem que o professor saiba o que ela vai dizer". Isso é a ideia de uma autoridade que não se impõe pela força, mas pela capacidade de perceber o aluno e compreender o que ele vai fazer. Agora, se o professor deve ter autoridade? Claro, mas, para mim, a melhor definição é a do [filósofo alemão Immanuel] Kant, quando ele diz que o professor deve ter autoridade, mas que ela deve ser posta sempre a serviço da liberdade do aluno. Eu acho que é o ensinamento mais importante na área da educação: a autoridade não é para formar escravos, mas cidadãos livres e, por isso, ela deve ser posta a serviço da liberdade do aluno.

http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/entrevistas/637-o-professor-na-educacao-do-seculo-21

Inovação no ensino


Escrito por Analice Bonatto
Incorporar a tecnologia às atividades desenvolvidas em sala de aula é um desafio das escolas que se estende a outros setores. Em entrevista à Gestão Educacional, o engenheiro aeronáutico Ozires Silva, fundador da Empresa Brasileira de Aeronáutica – Embraer – e ex-ministro da Infraestrutura, avalia que os investimentos em inovação ainda são insuficientes para o Brasil decolar. Ozires Silva conversou com a reportagem durante o II Fórum de Inovação Educacional, realizado durante o Geduc 2013, em São Paulo – evento em que mediou o painel “Desafios da formação educacional para a inovação tecnológica”, o qual contou com a participação do palestrante professor doutor Álvaro Toubes Prata, secretário nacional do Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, e o debatedor Paulo Iudicibus, diretor de Inovação e Novas Tecnologias da Microsoft. O ex-ministro ressaltou a necessidade de esforços para estimular investimentos em educação e inovação e lembrou que cabe a cada um mudar esse rumo: “se a sociedade não for sábia, não fará um sábio”.

Gestão Educacional: O senhor declarou que o Brasil precisa de inovação para decolar. Em que setores o País deve apostar?

Ozires Silva: Em qualquer setor, no Brasil, existe insuficiência de inovação. O mundo hoje caminha em um passo acelerado rumo à inovação. E esta compete a cada um de nós. Quem estiver lendo esta entrevista certamente é alguém atraído pela inovação. Com essa motivação mundial por novos processos, que evidentemente abre um horizonte desafiador, não há setor que não precise disso para se desenvolver. Até nossa bem-sucedida agricultura tem tópicos de inovação que precisam ser colocados.

Gestão Educacional: O investimento em tecnologia foi uma das bases da Embraer. Como o senhor avalia o investimento desse setor atualmente no Brasil?

Ozires Silva: Insuficiente, porque a inovação brasileira vem de fora. Uma coisa curiosa é que nem encontramos por aqui “cabeças” que aceitem tecnologia brasileira nova, que precise ser testada. A última tentativa que eu fiz foi há cerca de seis meses, quando procurei por uma pessoa amiga, com algo novo para ser testado, e ela olhou indignada para mim e disse: “você quer que eu seja cobaia?”. No Brasil, os projetos têm que dar certo. Caso contrário, quem o lançou vai ter que pagar a conta. O Brasil precisa compreender esse processo, porque se a sociedade não for sábia, não fará um sábio. Assim, é preciso que a nossa sociedade compreenda os mecanismos da criatividade e da tecnologia para chegar à inovação, que se transforma em um produto comercializável, já que muita tecnologia nem sai da faculdade.

Gestão Educacional: De que forma é possível promover o potencial tecnológico do País?

Ozires Silva: Eu pensei bastante no porquê de o estado da Califórnia ser inovador. Pensando no desenvolvimento tecnológico, eu senti [por parte] do californiano uma vontade indômita de empreender. Na minha turma [Ozires Silva fez mestrado no Caltech – Instituto de Tecnologia da Califórnia], nenhum dos meus colegas procurava por emprego, porque eles queriam criar o seu próprio emprego, além de pensarem coisas novas o tempo todo. Por isso, não é surpresa que a Califórnia seja a pátria da tecnologia. É preciso olhar nossa sociedade como um todo e ver o que precisamos mudar para que a criatividade brasileira possa também extrapolar. E nem precisamos analisar muito o que é preciso mudar. Basta observarmos, por exemplo, as pouquíssimas marcas brasileiras no mercado internacional. Em um mundo em que a inovação é fundamental, nosso País quase não tem expressão. A Embraer é uma marca internacional, porque o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) confiou e abrigou nossos projetos iniciais, e essa segurança é fundamental para entrar no mercado.

Gestão Educacional: Que caminho o Brasil deve trilhar para conquistar uma educação estruturada?

Ozires Silva: O caminho deveria ser o da desestruturação, porque o processo fundamental da natureza é a diversidade. O projeto da natureza funciona e, por isso, deveríamos aprender com ela. Se observarmos uma árvore com cuidado, podemos perceber que não há duas folhas iguais. E, talvez, sem essa distância [que existe] entre professor e aluno. É preciso discutir e dar mais ênfase ao aprendizado.

Gestão Educacional: Como fazer para que a escola se adapte ao uso de tecnologias em sala de aula?

Ozires Silva: Os especialistas ainda não sabem. Por isso, precisamos muito dos debates sobre aprendizagem à disposição hoje para melhorar a eficiência das pessoas e prepará-las para essa sociedade cada vez mais complexa. Isso obriga rever o tempo de permanência na escola, o currículo e os mecanismos por meio dos quais se produz o aprendizado. E é preciso lembrar-se de algo muito sério: a criatividade e o progresso só ocorrem em um clima de liberdade e hoje, no setor educacional, temos muitas regulamentações que não têm mais sentido.

Gestão Educacional: Os alunos não são os mesmos de décadas atrás. Precisamos de um professor melhor preparado para o século 21?

Ozires Silva: Sem dúvida. Muitas vezes, por meio do acesso desta bonita democratização das chamadas tecnologias de informação e comunicação, o aluno chega à sala de aula já sabendo algo sobre o que será ensinado. Isso é maravilhoso e abre novos horizontes para o professor. Tenho a impressão de que uma aula assim é muito mais interessante e faz com que os alunos não encontrem nela algo chato e obrigatório, como nota e frequência, mas, sim, queiram estar nela porque é um ambiente interativo, leve, em que se aprende com mais rapidez.

Gestão Educacional: Como reter e desenvolver talentos nas instituições brasileiras?

Ozires Silva: A escola é uma transição. A pergunta correta seria sobre a retenção do trabalho desse aluno, mas lembrando que hoje os produtos são cada vez mais complexos, com ciclos de criação e de produção mais longos. Isso exige, efetivamente, especialistas que não podem ser perdidos, de modo que a retenção desse especialista no setor produtivo me parece mais importante que na escola. Agora, reter na escola, no sentido de que ele vá à escola, [também é importante]. Não podemos deixar nenhum aluno para trás.

Gestão Educacional: Quais políticas públicas e ações são necessárias para que esses talentos fiquem no Brasil, para que não sejam recrutados por potências, como Estados Unidos e Ásia?

Ozires Silva: Ao olharmos para o mundo hoje, emergem duas palavras de extrema importância: mobilidade e comunicação. A mobilidade, inclusive, graças ao avião, permite que as pessoas se comuniquem bastante, de forma rápida e fácil. Então não há a possibilidade de restringir. Potências, como os Estados Unidos e a Ásia, são realmente atrativas, então devemos criar o mesmo clima por aqui. Hoje, no mundo, não há mais competição simplesmente entre empresas; há competição entre países, como é o caso da Coreia do Sul e da China, onde a soma do setor privado e do governo faz com que estejam ga­nhando na competição mundial. Eles se tornaram polo de atração justamente por meio de uma cooperação entre o governo e o setor produtivo. Por aqui, parece que o governo está em um canto e o setor produtivo, em outro. Com isso, abrimos espaço para que eles entrem. O que temos que fazer é tornar nosso País atrativo e essas tecnologias complexas devem ser aplicadas mais intensamente. Mas, evidentemente, como o povo brasileiro confia no governo, este tem um papel muito importante em entender isso e tornar o que é uma pergunta uma resposta.

Gestão Educacional: É possível ensinar inovação?

Ozires Silva: Eu tenho um caminho pessoal e penso que a participação da sociedade é extremamente importante, porque ela influencia cada um de nós. Eu nasci em Bauru [SP], cidade relativamente pequena à época, e na minha escola havia um professor de Química que era fã incondicional de Santos Dumont. Assim, em toda oportunidade que aparecia, ele falava sobre o aviador. Eu ia ao aeroclube da cidade e via que todos os aviões eram americanos, daí aquilo bateu na minha cabeça, já que Santos Dumont, um brasileiro, foi o precursor da aviação. Comecei a discutir com os companheiros: vamos cruzar os braços e deixar os americanos ocuparem o mercado? Ou seja, já estava entrando em um processo de pesquisa, que precisa estar presente no que chamamos de inovação, e que é fundamental para pensarmos em como chegar ao mercado com tecnologia. Depois, uma série de circunstâncias me permitiu conseguir uma bolsa integral para poder me formar engenheiro ae­ronáutico. E com a qualificação, o local certo e a vontade de chegar lá, em geral, consegue-se isso.

Gestão Educacional: É possível termos um país desenvolvido se não temos força em patentes?

Ozires Silva: Aqui, no Brasil, acreditamos que as pesquisas devem ser conduzidas nas universidades. No mundo desenvolvido, mais de 80% das pesquisas são conduzidas pelas empresas. O MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) – um dos principais centros de pesquisa nos Estados Unidos – é considerada a universidade que mais produz patente, mas ela não chega a gerar 15% das patentes dos Estados Unidos. Nós precisamos encontrar mecanismos, estímulos e recursos para que as empresas se envolvam diretamente nesse processo por aqui. É o caso da Embraer, que investe e trabalha com pesquisa o tempo todo para manter a competitividade mundial. É uma força de trabalho imenso e é o que faz com que ela seja uma das empresas que mais investe em inovação.

Gestão Educacional: Como desenvolver o empreendedorismo na área educacional?

Ozires Silva: Desde os meados da década de 1990, o Ministério da Educação abriu muito mais opções para a iniciativa privada entrar na área educacional. O próprio desempenho do setor privado nessa área mostra o que aconteceu: hoje, quase 80% dos jovens em curso superior estão em escolas privadas. Isso também demonstra que foi trazido um recurso que já existia no Brasil para o ensino. E isso, sem dúvida, deve continuar, porque cada vez mais vemos que o governo se agigantou, tem um nível de arrecadação enorme, mas está devolvendo pouco [em recursos e melhorias] para a população. Dessa forma, a área privada é um terreno extremamente fértil para o setor educacional.

Gestão Educacional: O que o senhor pode dizer aos gestores educacionais que buscam o sucesso de suas instituições?

Ozires Silva: Eles devem fazer uma boa gestão, porque, infelizmente, as escolas privadas pagam impostos e são tratadas como empresas. Nós devíamos eliminar isso. É possível verificar o que institucionalmente poderia ser feito para que as escolas tenham um tratamento diferenciado em relação às empresas. E que a sua gestão seja aprimorada, no sentido de que efetivamente responda aos anseios da comunidade. Porque a escola não é avaliada pelo seu lucro, mas, sim, pela qualidade dos alunos que forma. E, para finalizar, um lembrete: a inovação, hoje, caminha cada vez mais ao lado da educação competente e temos que pensar que vivemos em um mundo de crescente competência. Também devemos parar e refletir sobre a importância da educação para todos nós: onde estaríamos agora se não fosse a educação? Nós vivemos em um país grande geograficamente, mas pequeno do ponto de vista econômico e cultural.

http://www.gestaoeducacional.com.br/index.php/reportagens/entrevistas/541-inovacao-no-ensino

Livro didático em questão

http://www.revistagestor.com.br/edicoes/edicao_20/files/assets/basic-html/page50.html



Barrados no concurso

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/195/barrados-no-concurso-292320-1.asp

Falta do nome do curso em edital de concurso pode impedir um docente de trabalhar e deixar uma turma sem professor


Analice Bonatto
Gustavo Morita
Para ser professor na rede municipal, o caso de Elder
teve de ser avaliado pelo Conselho Municipal

O edital de um concurso para a contratação de docentes de ciências para o ensino fundamental II e médio na rede municipal de São Paulo em 2011 trouxe à tona um problema que em nada contribui para a redução do déficit de professores no Brasil. Naquele ano, devido a informações incompletas na descrição do edital, diversos docentes qualificados que haviam sido aprovados no concurso foram impedidos de trabalhar. Tudo porque o curso não constava do edital lançado pela prefeitura da capital paulista em 2011. Este é o caso da professora Cláudia Regina Pereira Ribeiro, que, aprovada no concurso da prefeitura de São Paulo em 2011, somente pôde tomar posse de seu cargo após concorrer e passar novamente no concurso realizado no ano seguinte, quando o curso de Licenciatura em Ciências da Natureza (LCN) da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) finalmente foi incluído no edital.

Rumo ao fundamental

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/190/rumo-ao-fundamental-277182-1.asp


Educação Infantil

Envolta em expectativa tanto para as crianças, quanto para pais e escola, a transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental impõe um desafio: integrar as duas etapas, evitando a ruptura entre brincadeira e letramento


Analice Bonatto
Gustavo Morita
Ceduc Creche Natura: pesquisadores defendem que é preciso levar a brincadeira da EI para os primeiros anos do EF




'Dois, dois', repetem as crianças da Emeb Vital Brasil, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, ao mesmo tempo em que mostram o número com as mãos ao serem questionadas sobre quando vão para o Ensino Fundamental. Com entusiasmo, mostram no calendário os dois meses até o final de 2012. A maioria delas vai para a Emeb Viriato Correia, a poucos metros dali. A proximidade é um dos fatores que faz muitas já conhecerem a nova escola. A princípio, a questão sobre o que vão fazer no EF desperta mais respostas relacionadas ao brincar: 'lá tem quadra e vamos jogar bola', diz uma delas. Os dois parquinhos e o jardim encantado também são lembrados. Porém, a mesma questão acaba gerando outras respostas, como 'vai ter muita lição de casa', 'vamos usar caneta e caderno grande', dizem ao mesmo tempo. 'Lição de letra de mão', diz um aluno já alfabetizado, apontado por elas como inteligente, que, por sua vez, justifica a ida para a nova fase escolar para ficar 'ainda mais inteligente'.

A potência criativa da dança





Escrito por Analice Bonatto

“A gente pode dançar do jeito da gente”, respondem algumas crianças da Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Pérola Ellis Byington, em São Paulo, quando questionadas sobre a experiência delas com a dança. Isso fica evidente, segundo a coordenadora Lucilene de Lucca Marini, quando se observa nas crianças maior autonomia de criação dos movimentos com o corpo. “A ideia não é aprender uma coreografia, fazer apresentações, mas sim ver no corpo um potencial de criação, de comunicação e de transformação”, conta a coordenadora. A dança contemporânea está no currículo da escola desde 2010. “Essa dança desestabiliza as propostas rígidas, não tem passos já coreografados para serem memorizados. Nela, todos podem dançar, imprimir sua marca e trazer sua história. Não há um padrão de bonito ou feio, de certo e errado. Há a intenção”, enfatiza Lucilene.
Essa especificidade e o diferencial da dança são essenciais na escola, porém frequentemente pouco compreendidos. O trabalho pleno com a dança requer que os alunos saibam realizar diversas leituras do mundo. “Não é uma dança de passo, de sequência, por isso não adianta o repertório estar presente, é preciso lê-lo. A escola tem a função de propiciar a arte como forma de leitura de mundo”, explica a professora e pesquisadora Isabel Marques, que dirige o Caleidos Cia. de Dança e o Caleidos Arte e Ensino, onde presta assessoria e consultoria a projetos e programas de educação continuada, comunicação e dança. É possível trabalhar esses conceitos com todas as turmas, porém com abordagens diferentes em função da faixa etária. “O perigo é fazer com que as crianças criem e [somente] o ensino médio se volte à técnica. Todos precisam de criação, de técnica e de repertório. Não associar conteúdo à faixa etária, mas sim a formas de ensino”, analisa Isabel, que tem mestrado em Dança pelo Laban Centre for Movement and Dance, de Londres (hoje Trinity Laban).
“Nós partimos do princípio de que a dança é o pensamento do corpo”, explica Gaby Imparato, coordenadora e professora do curso Comunicação das Artes do Corpo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), único no Brasil, que privilegia a pesquisa e o processo criativo no curso de Dança. A coordenadora explica que, com base nesse conceito, o aluno precisa entender que, por meio da dança, o corpo traz questões para ser compartilhadas, a ser resolvidas. Dessa forma, o foco do trabalho é desenvolver um vocabulário próprio para investigá-las.
Segundo Isabel, como o corpo nunca está pronto, porque se constitui a cada instante pelos acordos com o ambiente, depende do professor estimular seu aluno a ser propositivo e encontrar outros caminhos e novas possibilidades. “O aluno sai do perfil dos condicionamentos porque está sendo estimulado a dar respostas mais complexas”, destaca a coordenadora.
Na Emei Pérola Ellis Byington, o Encontro de Dança, construído por meio do diálogo com as crianças, acontece ao menos uma vez por semana. “A dança passa pela contextualização, pelo fazer e pelo criar que fluem em constante diálogo durante o encontro”, comenta Lucilene, coordenadora da escola. Ela explica que a contextualização é composta de situações de vida que dialogam com a proposta; já o fazer consiste na criação de movimentos. Por fim, na apreciação, as crianças são incentivadas a reconhecer os elementos da dança. Dessa forma, se a criança quer mostrar o que a desacelera – e isso acontece, por exemplo, quando está na praia –, ela se movimenta para mostrar isso. “Daí o outro diz o que ‘leu’ [do movimento] e ela vê se conseguiu comunicar o que queria. É um trabalho para elas perceberem as possibilidades do próprio corpo”, explica.
Essa abordagem pedagógica em Dança, segundo Alba Pedreira Vieira, Ph.D. em Dança e professora adjunta e fundadora do curso de graduação em Dança do Departamento de Artes e Humanidades da Universidade Federal de Viçosa (UFV) – que prioriza o pensar sobre o corpo –, alia autonomia, criatividade e reflexão que se materializam pelo movimento pensante. “O movimento é fundamental na formação do pensamento. Aulas de dança que privilegiam essas orientações e também se articulam com a educação somática enfatizam, por exemplo, a escuta, a fala e a percepção das suas possibilidades comunicativas do corpo”, analisa Alba.
O professor, por meio de várias propostas, é o mediador na construção do conhecimento do aluno sobre as suas sensações corporais. Dessa forma, ele auxilia o aluno a fazer conexões com o próprio corpo e possibilita o despertar da sua linguagem corporal. “A arte é linguagem. Hoje, a sociedade não tem entendido isso, porque compra a ideia do ‘corpo máquina’. Assim, esse escutar do corpo vai possibilitar ao aluno a conexão com ele mesmo e a relação melhor com o outro, com o meio ambiente, com seus colegas, com o espaço e no espaço. O espaço escolar, a meu ver, não deve privilegiar a performance virtuosa”, considera Alba.

Uso prazeroso e crítico

O colégio Marista Nossa Senhora da Glória, em São Paulo, tem tradição em dança. Há mais de 20 anos, essa arte é parte do processo educacional dos alunos, da educação infantil II ao ensino médio. Segundo Keila Roberta Dias de Castro, coordenadora do Núcleo Cultural da escola, o grande objetivo é propiciar vivência prazerosa durante o processo escolar que segue ao longo da vida dos alunos. “O objetivo é utilizar a dança como um recurso lúdico, capaz de enriquecer a aprendizagem”, conta a coordenadora. Anualmente, a escola realiza o festival Dance Glória e tem dois grupos que participam do Encontro Nacional da Dança (Enda).
De forma criativa e crítica, a dança pode promover a liberdade de expressão da criança e do jovem. A professora de Dança Iza Lotito, que trabalha com alunos do ensino médio, destaca a importância do trabalho nessa fase, que é “um salto na formação do sujeito”. Segundo ela, nesse período de transformações, o adolescente “não se acha” no seu corpo. Como a dança dialoga com o individuo, ele pode problematizar o seu corpo.

Dicas para inspirar projetos de dança na escola:
PARA LER:



Linguagem da dança: arte e ensino
Isabel Marques
Editora Digitexto




Arte em questões
Isabel A. Marques e Fábio Brazil
Editora Digitexto


VIEIRA, A. P. Ampliando a acessibilidade à arte, dança e cultura em escolas públicas mineiras. In: ENECULT, 6., 2010, Salvador. Anais... Salvador, 2010. Disponível em: www.cult.ufba.br/wordpress/24743.pdf.
O Departamento de Artes e Humanidades da Universidade Federal de Viçosa disponibiliza em seu site algumas publicações sobre a dança. Você pode conferi-las no link: www.educacaoparaasartes.ufv.br/index.php?area=publicacoes

PARA ASSISTIR:
Pina
Direção: Wim Wenders
Gênero: documentário
Nacionalidade: França, Reino Unido, Alemanha



Sonhos em movimento
Direção: Anne Linsel e Rainer Hoffmann
Gênero: documentário
Nacionalidade: Alemanha




Revista Profissão Mestre

Matéria publicada na edição de dezembro de 2013.

http://www.profissaomestre.com.br/index.php/especiais/arte-educacao/651-a-potencia-criativa-da-danca